terça-feira, 2 de agosto de 2011
RESUMO DA EDIÇÃO
Praceta Pedro Escuro, 5 – 2.º Dt.º - 2000-183 Santarém
Apartado 518 2000–906 SANTARÉM
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Bem-vindo ao Jornal Folclore on-line
N.º 186 (AGOSTO)
TÍTULOS DA EDIÇÃO
OS BOLETINS
Editados por grupos folclóricos, os Boletins são veículos de informação junto dos seus elementos activos e massa associativa, como dos amigos e simpatizantes, substituindo muitas vezes as vozes noticiosas dos dirigentes. Mas podem ser, também, veículos de formação, quando trazem à estampa notas ou comentários que contribuam para o esclarecimento – e valorização pessoal – dos activos cooperantes: os bailadores, os cantadores, os tocadores e os simples figurantes.
Um bom exemplo daquilo que dizemos, chega-nos periodicamente da Amorosa (Matosinhos). Chama-se ‘O Amorosense’ e é editado pelo Rancho Típico da Amorosa. É publicado trimestralmente. Chegou-nos à redacção mais recentemente a edição N.º 17, de Abril, Maio e Junho. Publica-se há 5 anos. A pena de Raul Neves, o “motor” do prestigiado grupo, é a principal responsável pelo conteúdo de “O Amorosense”. Mas também a de João Gomes, Laura Neves, Dr. João Pimenta e outros colaboradores eventuais. Para além da informação, ‘O Amorosense’ tem sempre a componente formativa. E distrai com uma página de passatempos: sudoku, provérbios, adivinhas.
Para as novas gerações sempre fala da “terra mais bonita de Portugal”, Leça da Palmeira, e das suas gentes num tempo recuado. Informa sobre o passado. E dá formação.
Vale a pena o investimento. Uma modesta impressão gráfica decerto não sobrecarrega as débeis (adivinha-se) condições económicas da notável associação folclórica. E colhe frutos que a palavra, porventura não oferece.
Que ‘O Amorosense’ possa servir de exemplo e de incentivo a muitos outros promotores folclóricos.
O director
NOTA EDITORIAL
AGOSTO JÁ NÃO DÁ FESTAS AO FOLCLORE
Longe vão os tempos quando o movimento folclórico andava numa roda viva no mês de Agosto – o mês das Festas – para cumprir um calendário imenso de compromissos que levavam à animação das Festas populares. Agosto era um mês de agenda recheada para os grupos folclóricos. Os fins-de-semana eram alargados de sexta a segunda, com actuações remuneradas, que trazendo aos cofres dos grupos consideráveis fundos, cobriam todos os encargos, da aquisição dos trajes ao aluguer de transportes. Então, os apoios (subsídios) eram palavra proibida. Os grupos de renome terça-feira, 5 de Julho de 2011faziam-se pagar de forma lauta, o que proporcionava a entrada de bom dinheiro, e no fim da época o balancete apresentava resultados quase sempre positivos. Valia o trabalho remunerado das actuações na completa falta dos subsídios autárquicos, que vieram numa época recente, colmatando a falta dos contratos com as Comissões de Festas, que foram optando pelos artistas da chamada canção pimba.
Se as verbas provindas da animação das Festas há muito deixaram de ser uma realidade, é agora assim com os subsídios que amparavam a actividade cultural mas também social dos grupos. E não se venha com o discurso de que o tempo não é de subsídio-dependência. O papel social que os grupos de folclore desempenham junto das populações, exige o apoio, por variadas formas, do poder local, já que as autarquias não oferecem o benefício de bem-estar social e por isso devem ajudar as associações que o disponibilizam, da recreação à formação. E provada está a importância do associativismo, e particularmente de grande parte dos grupos de folclore, quando propicia actividades de reconhecida utilidade pública junto das várias camadas da sociedade.
Agosto está aí. Mas sem Festas animadas pelas danças e cantares do povo. De populares, só a intenção do programa, porque o que oferecem, é uma mão cheia de nada, paga com rios de dinheiro. E que são um logro, quando as vozes dos cantantes contratados são apenas virtuais, graças ao truque do playback.
O director
OPINIÃO
A PROMOÇÃO MEDIÁTICA DE UM FOLCLORE VIRTUAL
O passatempo “O Rancho do Coração”, do programa da RTP “Portugal no Coração” terminou no dia 26 de Junho. Participaram 40 formações, anunciou a produção. Perderam meia dúzia de projectos com um trabalho aproximado do razoável, e que terão investido na competição, provavelmente sonhando alto, envolvendo-se com muitas “distorções folclóricas”. Fizeram-no a troco de nada. Terá ganho a RTP com os 35 mil votos telefónicos que recebeu ao longo das várias emissões para eleger os vencedores. Resta agora que o grupo triunfador não venha a titular-se o “melhor rancho do País”…
Na nossa edição de Abril último - um mês antes do início da emissão da referida rúbrica - alertámos para o mau serviço que a RTP iria prestar ao Folclore nacional, com o anunciado passatempo, que convidava os ranchos e grupos folclóricos a participarem. Antevia-se que à chamada acorreriam maus desempenhos de retractação etnográfica e folclórica. Pressagiávamos que se viesse a vender gato por lebre e a oferecer-se uma má imagem do folclore. E na realidade, a esmagadora maioria dos participantes terá feito arrepiar o mais desatento folclorista, tão absurdas foram as suas prestações.
Ainda manifestámos uma pontinha de esperança relativamente a um bom serviço ao folclore nacional quando dissemos: “Naturalmente que a iniciativa se aplaude se os conteúdos respeitarem as regras de adequadas representações, seleccionadas dentro de um critério de acertada representatividade. Mas, a forma aleatória como são aceites os grupos participantes, revela a pior antevisão de uma péssima mostra do nosso folclore e antecipamos um mau prenúncio da presença do folclore nacional no passatempo do programa da RTP. Lamenta-se que uma vez mais um pseudo folclore sirva à televisão para diversão e entretenimento”. Estávamos então a um mês do início do entretenimento televiso, que então veio a chamar-se de “O Rancho do Coração”. E apelávamos a que a “trapalhada pedisse mesmo uma espécie de “providência cautelar”...
A nossa previsão veio, infelizmente, a confirmar-se pelo seu pior. Foi efectivamente muito mau - quase tudo - o que passou na dita rúbrica ao longo de algumas semanas, protagonizado por promotores de bocas cheias de folclore. E lamenta-se que um ou outro projecto com razoáveis princípios de representatividade, se tenha misturado numa mescla intolerável de um suposto folclore.
A competição, que não pôs à prova não uma efectiva representatividade tradicional mas sim algum malabarismo de supostas danças (?) e maus estereótipos de algum folclore, contribuiu, antes, para mais uma oportunidade do canal de televisão ver entrar cofres adentro mais uns milhares de euros com o produto das chamadas telefónicas dos apoiantes das funções que se passearam no programa ao longo das emissões. MJB
- Folclore e apoios oficiais, por: Dr. Mário Nunes
DESTAQUES
Faleceu uma lenda do Folclore Português
O FOLCLORE DO PAÍS DESPEDIU-SE DE AUGUSTO DOS SANTOS
Mestre de todos os folcloristas do País, defensor inveterado da causa folclórica, Augusto Gomes dos Santos terminou a caminhada de uma vida na intransigente defesa dos valores culturais tradicionais. Faleceu no dia 9 de Julho, a poucos dias de completar 87 anos. Fundador da Federação do Folclore Português, era actualmente seu Presidente Honorário, a instituição que fundou há 34 anos. Foi acompanhado à sua última morada por centenas de folcloristas e amigos, como de inúmeras representações de grupos folclóricos e de várias personalidades. À entrada do cemitério, um profundo silêncio foi quebrado por uma enorme salva de palmas e prestava honras ao pedagogo e autodidacta pela obra deixada. O adeus foi de emoção e já de saudade.
Texto e Fotos: Manuel João Barbosa
Foram muitos os folcloristas que estiveram em Arcozelo para se despedirem do seu educador de muitas décadas. Augusto Gomes dos Santos não conseguiu combater a grave doença que há alguns anos o atormentava. Ainda assim, uma força indómita o fazia andar por aí, aconselhando e recomendando o melhor desempenho dos grupos de folclore. Uma caminhada de mais de meio século a espalhar conhecimentos e experiência foi agora parada. Para trás ficam páginas de uma escola de doutrina da cultura popular tradicional e de pedagogia dos variados aspectos da etnografia e do folclore do País inteiro.
(Desenvolvimento da edição impressa)
FOLKCANTANHEDE ENCHEU DE FESTA A REGIÃO GANDAREZA
Três continentes viram-se representados na edição deste ano do FolkCantanhede – Semana Internacional de Folclore – Ásia, América e Europa, recebendo mais de duzentos e cinquenta participantes. O Festival conquistou uma vez mais a região gandareza de Cantanhede, levando a todo o concelho a festa do folclore do mundo. Entre 9 e 16 de Julho, o FolkCantanhede esteve diariamente em vinte freguesias mostrando no interior rural do concelho os trajes incomuns de outras culturas do mundo, como as suas danças e músicas tradicionais. FolkCantanhede tem a supervisão do CIOFF e é uma organização do Grupo Folclórico Cancioneiro de Cantanhede.
Texto e fotos: Manuel João Barbosa
O FolkCantanhede conquistou uma vez mais a região da gândara, no concelho de Cantanhede, espalhando a alegria do folclore de outras paragens do mundo trazida pelos grupos convidados a participarem na edição deste ano do prestigiado Festival. Durante uma semana o concelho de Cantanhede foi invadido por outros padrões etnográficos e folclóricos, naturalmente desiguais entre si por força dos aspectos culturais de outros povos.
(Desenvolvimento da edição impressa)
EM ÁGUEDA MILHARES ENCANTARAM-SE COM AS "DANÇAS DO MUNDO"
O Folclore do Mundo passeou-se sobre as águas do Rio Águeda - que banha a bonita cidade bairradina do mesmo nome - numa amena noite de Julho. Admiráveis formações folclóricas, oriundas de diversos cantos do mundo - Chile, Espanha, Geórgia, Polónia, Turquia, Croácia, Moldávia, Panamá, como Portugal - fizeram espelhar nas calmas e límpidas águas do rio Águeda, a cor dos seus trajes tradicionais e os movimentos artísticos das coreografias do seu folclore. Uma plateia imensa – crescente cada ano - encantou-se com o maravilhoso espectáculo. O Festival “Danças do Mundo Vouga 2011” é uma feliz parceria do Grupo Folclórico de Mourisca do Vouga e da Câmara Municipal de Águeda.
Texto e fotos: Manuel João Barbosa
Águeda voltou a vibrar com o Festival Internacional “Danças do Mundo Vouga 2011”, que levou a ‘Águeda-a-Linda’ na noite de 24 de Julho os sons e tons do folclore do mundo, do Chipre à Croácia, ou de Espanha à Moldávia, como do Nepal ao Panamá e da Polónia à Turquia. Naturalmente que Portugal marcou igualmente presença principal com honrosas participações, protagonizadas pelo grupo anfitrião, o Grupo Folclórico da Região do Vouga, como de um prestigiado embaixador da Madeira: o Grupo de Folclore e Etnográfico da Boa Nova (Funchal).
(Desenvolvimento da edição impressa)
GRUPO ETNOGRÁFICO DE LORVÃO OFERECEU FESTIVAL INTERNACIONAL
O Grupo Etnográfico de Lorvão (Penacova) preparou de forma organizada o seu XXII Festival Internacional de Folclore, que se concluiu por um assinalável êxito. O Festival Internacional de Lorvão reuniu distintos representantes folclóricos nacionais, como a parte internacional esteve a cargo de prestigiadas representações. O mosteiro de Santa Maria de Lorvão emprestou toda a sua beleza arquitectónica ao cenário da admirável mostra de folclore.
Manuel João Barbosa
O Festival Internacional de Lorvão sucede ao Festitradições de Povos do Mundo, que durante 11 anos foi realizado graças a uma parceria entre os grupos de Lorvão, Chelo e Penacova, e que este ano não terá concretizada a sua edição.
(Desenvolvimento da edição impressa)
NOTÍCIAS
- Festival da Glória do Ribatejo fez reviver costumes de outros tempos
- Vila Nova de Gaia: Festival nas comemorações das Bodas de Prata do Rancho da Senhora do Monte de Pedroso
- Iniciativa da Fundação INATEL
“Tradições que Vivem”- Encontro sobre Património Cultural Imaterial
- Rancho Etnográfico de Mogadouro em Poreč (Croácia)
- Rancho Infantil e Juvenil de Loulé celebrou o seu 34º aniversário
- Folclore a contento no Festival do Rancho do Bairro de Santarém
- FestiBatalha animou o centro histórico da Batalha com a festa do folclore
- Vila Nova de Gaia: Rancho ‘As Lavradeiras de Pedroso’ ofereceu uma admirável gala de folclore
- Bodas de Ouro para o Rancho Folclórico da Romeira (Santarém)
- Êxito completo do Encontro Internacional de Cultura e Tradição de São Romão "Pastor 2011"
- Festival Nacional de Folclore ‘Silvalde 2011’
- Mostra Internacional de Folclore em Montemor-o-Novo
- Grupo dos Sargaceiros da Apúlia actucou no Luxemburgo
- Rancho Folclórico de Torredeita esteve na Normandia
- Todos a dançar no Festival em Rio Frio
- Grupo “As Padeirinhas de Ul” é membro efectivo da Federação
- Otílio Dourado foi homenageado
- Grupo Folclórico da Relva no Festival Beira Serra
- CRONICA DURIO-BEIROA - As Segadas de antigamente
SECÇÕES:
- FESTIVAIS – Os Festivais com realização no mês de AGOSTO
- TRADIÇÃO / INOVAÇÃO – Solidó (parte II), pelo Eng.º Manuel Farias
- PORQUE NÃO TE CALAS?
- CARTAS AO DIRECTOR
A S S I N E
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terça-feira, 5 de julho de 2011
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TÍTULOS DA EDIÇÃO
EDITORIAL
FÁTIMA
O que faz milhares de folclorista trajados a rigor se associarem à Peregrinação Nacional do movimento folclórico a Fátima, que anualmente a Federação promove? Devoção ou Fé? O acto de participar ou o facto de estar em Fátima? Todos defendem um certo “sentimento de bem-estar”. Também a Fé, que “carrega esperança”. Esperança em algo que se deseja, implorando graças. Depois, a religiosidade, o respeito pela santidade, pelo divino, pelo sagrado. Rezar em Fátima nunca será o mesmo que orar na capela ou na Igreja da aldeia ou da vila. Fazê-lo no Santuário, no altar das aparições, enche a alma e reconforta o espírito. E parece tornar-se estimulante. A realidade peregrina ao espaço sagrado é incontestada. E não só pelo impulso de uma religiosidade popular, mas de toda a sociedade.
O “sentir bem” – como quase sempre ouvimos dizer, e vulgarmente é assim definida a presença no Santuário – esconde muitas vezes outras razões que a própria razão desconhece.
No dia 29 de Maio a força do folclore nacional voltou a integrar a peregrinação, representando-se com cerca de quatro mil figurantes trajados a rigor. Não foram, certamente, para abençoar a causa que participam, mas decerto impelidos pela Fé. E pelo alento que o simples acto desperta e faz sentir.
O director
NOTA EDITORIAL
Descentralização não ajuda à participação
A localização das iniciativas da Federação do Folclore Português é amiudadas vezes criticada pela maioritária realização no Norte do País, distanciando-se das regiões do Sul, de entre o Ribatejo e o Algarve.
Este ano o organismo fez descer, uma vez mais, a já mediática Exposição Nacional de Trajes ao Vivo ao Centro Sul do País, tendo em vista, não só descentralizar o evento, como ajudar a uma maior participação dos grupos da metade sul do País, encurtando as distâncias dos grupos sulistas. A intenção acabou por não ser correspondida, com o número de presenças de representantes do Ribatejo, Alentejo e Algarve a contarem-se pelos dedos de uma só mão. Para os grupos destas regiões, como da Baixa Estremadura, seria um salto a viagem até Porto de Mós, no Ribatejo Norte.
Foi assim também com a Peregrinação Nacional a Fátima; os representantes do Sul não chegaram a uma dezena!
Não valerá a desculpa de uma intensa actividade dos grupos na altura da realização para justificar as ausências. As datas das realizações são ainda de alguma acalmia no calendário de actuações.
Cai assim por terra o pretexto da enorme distância para levar à não participação. Afinal, centenas de quilómetros foram percorridos por muitos grupos do Baixo Minho, do Alto e Baixo Douro e mesmo da Beira Alta, onde sempre está a força da cooperação.
Compreende-se que é no Norte que está em maior número o movimento folclórico do País. Mas a percentagem encontrada é altamente minimizadora relativamente ao Sul. Em Porto de Mós estiveram apenas 2 representações do Alto Alentejo e 2 do Ribatejo; ausência total do Baixo Alentejo, do Algarve e da Estremadura Sul.
Compreensivas são, por razões conhecidas, as ausências das Ilhas. O que é pena.
É certo que a organização limitou as participações por uma questão de logística, especialmente pelo fornecimento de refeições, fixando-as em 600 inscrições. Mas decerto que seriam aceites outras inscrições do Sul, abatendo ao fluxo maior de outras regiões do Norte. Foi isso mesmo que nos fez sentir um dirigente da Federação.
O director
OPINIÃO
Elas não devem ser “eles”
O assunto já foi aqui tratado amiudadas vezes; travestir moças de rapaz. Voltamos à baila porque assistimos recentemente à actuação de determinado grupo que se exibia numa festa de Folclore com duas ou três moçoilas travestidas com trajes masculinos, talvez pela escassez de elementos do sexo oposto na formação. Falta de informação ou de sensibilização sobre as questões do folclore. Decerto que na terra do grupo em causa as moças dançaram entre si. Porque não retratar o preceito no grupo folclórico? O costume sempre foi usual entre as comunidades de todo o País. Era um hábito generalizado, e quase constituía uma praxe nos bailaricos as raparigas abrirem a função dançando entre si; só depois avançavam os rapazes. O grupo que nos traz uma vez mais a esta descomplexada questão, porventura desconhece esta regra tão básica de representar o seu folclore, e vá de travestir as suas bonitas moças, que para se distinguirem do restante conjunto masculino, não abdicaram de carregadas pinturas do rosto.
Usar calças com longos cabelos caídos pelas costas, retratando uma figura masculina dos anos vinte, é afrontar os sãos princípios morais e sociais do povo de então. O grupo de folclore que desenvolve um trabalho sério de representação, deve assim omitir a incorrecção da retratação, afastando o desacerto da representação. Convenhamos que à época, uma eventual transfiguração do sexo, só por arremedo era permitida, muito especialmente em alturas de brincadeiras carnavalescas.
Mulheres a dançarem umas com as outras era hábito usual e corriqueiro nos bailaricos populares. Aos grupos de folclore compete fazer a retratação do costume, fidelizando o acto. O erro continua a passear-se inadvertidamente pelos palcos da exibição folclórica. A mensagem chega aonde chega e nunca se espalha de forma tão intensa como era desejável. São descuidos quer continuam a proliferar entre o movimento folclórico. A sensibilização tarda a chegar e muitas representações, que continuam num barco à deriva, sem encontrarem bom porto. A palavra sabedora de quem mais entende não é ouvida ou não convém ser entendida. Prefere-se a prosápia pela autoria da obra criada, por um idealismo bacoco, maculando de forma ingénua e incauta os valores culturais do povo que nos antecedeu. A realidade que hoje relatamos evidencia um continuado desnorte daquilo que deveria estabelecer-se como regra da representação do folclore. MJB
DESTAQUES
Fátima. Peregrinação Nacional de Grupos Folclóricos a Fátima
Cova da Iria recebeu a etnografia de Portugal
Mais de 4000 trajes, representativos da etnografia do País, estiveram em Fátima, participando na IX Peregrinação Nacional de Grupos Folclóricos. A iniciativa – que celebra o Dia do Folclore em Portugal – é da Federação do Folclore Português e sempre conta com enorme adesão dos grupos seus membros associados. A organização contou ainda com a colaboração da Associação de Folclore de Leiria-Alta Estremadura e de alguns grupos de folclore da região. A RTP levou a cerimónia ao País e ao mundo, na habitual emissão dominical da eucaristia.
Texto e fotos: Manuel João Barbosa
Quase duas centenas de grupos de folclore rumaram ao Santuário de Fátima para participarem na Peregrinação Nacional, promovida pela Federação do Folclore Português. Os promotores folclóricos integraram a celebração ecuménica do dia 29 de Maio, que a RTP transmitiu especialmente através dos canais nacional e Internacional. Cerca de quatro mil trajes da tradição, representativos de boa parte da etnografia do País, ofereceram um ambiente desusado no espaço sagrado, proporcionando uma moldura humana incomum nas celebrações do Santuário.
(Desenvolvimento da edição impressa)
Santarém: O folclore animou a Feira Nacional de Agricultura
O Folclore do Ribatejo e de várias regiões do País animou diariamente o recinto da Feira Nacional de Agricultura, que decorreu em Santarém entre os dias 4 e 12 de Junho. Um Festival Nacional foi um dos principais pontos do programa no dia de abertura. Mas nos restantes dias, grupos da região ribatejana exibiram-se para gáudio dos milhares de visitantes.
Texto e fotos: Manuel João Barbosa
O programa da Feira Nacional de Agricultura privilegiou uma vez mais a vertente típica, retomada há alguns anos a esta parte, depois de um interregno que levou a quase uma ausência do Folclore na Feira. Uma grande parada do folclore nacional está nos objectivos da administração do Centro Nacional de Exposições (CNEMA), promotor da Feira. A proposta terá já sido apresentada à Federação do Folclore Português para que programe para o certame, por exemplo, uma exposição nacional de trajes, que o CNEMA patrocinará.
(Desenvolvimento da edição impressa)
NOTÍCIAS
- Parlamento Europeu disponibilizou em 2007, 400 milhões para a Cultura
- Federação desanimada com fraca adesão dos grupos do Sul às suas iniciativas
- Sociedade de Autores volta à carga para receber taxas pela exibição pública de Folclore
- Grupo Folclórico de Faro festejou aniversário. Centena e meia apagaram 81 velas
- Grupo de Folclore de Ponta do Sol fez uma viagem no tempo para comemorar 30 anos
- Rancho Regional de Gulpilhares comemorou as Bodas de Diamante
- Regional de Moreira da Maia festejou 77 anos
- Vinizaima do Chão, Águeda, reuniu-se à volta das tradições
- Grupo Juvenil de Galegos Santa Maria fez Festival
- Encontro de Tradições em Rio Tinto
- O programa “O Povo a Cantar” organizou festival com sessenta ranchos
- Ceifeiras e Campinos de Azambuja ofereceram interessante Festival de Folclore
- Folclore de Faro vai à Grécia
- Festitradições de Povos do Mundo não se realiza este ano
- Radialista português em Buenos Aires pede discos do nosso folclore
- Câmara do Cartaxo prepara assinatura de protocolos com as associações
- Câmara de Montemor-o-Velho atribui 200 mil euros ao associativismo
- Festival do Rancho do Cartaxo animou as festas da cidade
- Rancho da Região de Leiria ofereceu Festival à sua cidade
- Festival do Rancho da Casa do Minho no Jardim Vasco da Gama em Lisboa
- Porto de Mós; Tarde de Folclore levou muito público à Lagoa Grande
- Festival em Santo Varão reuniu centenas de folcloristas
- A-das-Lebres foi palco da festa do folclore
- Mau tempo fez recolher festa da Escola de Folclore de Erra
- Rostos de gente que tornou singular a Glória do Ribatejo. Rita Pote lançou “Glória – Cem Anos a Preto e Branco”
- José Travaços Santos apresentou um opúsculo de poemas
- Grupo Folclórico das Lavradeiras da Meadela comemorou 77.º aniversário
- Grupo de Santa Marta de Portuzelo comemorou 71 anos
- Rancho de Vila Nova do Coito levou o folclore à cidade e festejou as Bodas de Ouro
- Mau tempo não tirou o brilho ao Festival de Ançã
- Grupo Folclórico de Coimbra fez reviver a Serenata Futrica
- Serão de Tradições em Santana do Mato convidou a um regresso ao passado
- Prepara-se o Congresso Nacional de Folclore na Madeira
- Rede Aldeias do Xisto conta com mais três aldeias
SECÇÕES:
- FESTIVAIS – Os Festivais com realização no mês de JULHO
- TRADIÇÃO / INOVAÇÃO – Solidó (parte I), pelo Eng.º Manuel Farias
- PORQUE NÃO TE CALAS?
- CARTAS AO DIRECTOR
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sábado, 28 de maio de 2011
RESUMO DA EDIÇÃO DE JUNHO
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TÍTULOS DA EDIÇÃO
EDITORIAL
O FOLCLORE E O TURISMO
No Congresso Nacional de Folclore que decorreu em Dezembro do ano passado em Aveiro, ouvimos o vice-presidente da Entidade de Turismo do Centro dizer que “os turistas sempre procuram a nossa identidade na cultura e nas tradições”, reconhecendo a “importância do folclore como factor de venda do turismo no País e no Estrangeiro”, enquanto, na mesma ocasião, o Governador Civil do Distrito de Aveiro, José Mota, afirmava que o “folclore é não só uma vertente de animação do nosso turismo, como uma fonte de informação cultural; os rostos dos turistas alegram-se quando lhes oferecemos o nosso folclore”.
Não sendo uma questão de “puxar a brasa à nossa sardinha”, provado está que o folclore não só é um vector de animação, a que quase sempre se associa a alegria da música e uma colorida imagem das coreografias, como ainda pelo despertar da cultura portuguesa, diversificada a cada passo no rectângulo do País. Há portanto, na apresentação do folclore, uma importante mostra cultural, que tanto interessa ao turista.
O exemplo anunciado pelo responsável do Turismo do Norte podia ser seguido pelos demais núcleos de turismo – do Centro e do Sul. E todos ganhavam, a começar pela satisfação daqueles que nos visitam. Também pela festa que o folclore oferece.
Como não há bela sem senão, deixamos um alerta: as mostras do nosso folclore devem ser sensatas e cautelosas, para não estarmos e vender gato por lebre. Isto é, não devemos oferecer um produto estragado. Os “postais” terão de oferecer uma boa imagem, sem estereótipos, mas com o rigor da retratação tradicional. Há muitos e bons projectos entre o movimento folclórico nacional capazes de um bom desempenho, e integrar as eventuais campanhas de animação turística. Se a sensibilidade das Entidades de Turismo não for apurada nesta área de modo a garantir uma selecção apurada das formações participantes, então que peçam a ajuda de quem entende da matéria.
O director
NOTA EDITORIAL
O PUDOR NO FOLCLORE... OU A FALTA DELE
Num acto de completo descaro, tornou-se costumeiro ver-se nas actuações de alguns grupos cenas de completo erotismo, oferecidas por bailadoras de um imaginado folclore, em perfeita contradição com a candura das mulheres de outros tempos. A ousadia passa pela atrevida exibição do corpo em roupas íntimas, nalguns casos de reduzidas dimensões. Alguma libertinagem da classe feminina de hoje não pode ser levada para os espaços onde supostamente devem ser reproduzidos factos e actos folclóricos, isto é, hábitos populares de um passado distante, num tempo em que o recato da condição feminina era ponto da honra da mulher. Este é um imperativo a que se obriga um verdadeiro grupo de folclore, cumpridor de um real projecto de retratação tradicional.
Se se afirma, de boca cheia, estar-se a representar momentos lúdicos do povo de há um século, como se atrevem alguns mentores e agentes da representação falsear a verdade? Convenhamos que as eróticas posturas que hoje se evidenciam nos palcos das exibições folclóricas, nada terão a ver com os princípios sociais da camada popular a que devem reportar-se as reproduções do folclore. E não chega vestir os celebérrimos colants para disfarçar algum rodopio mais atrevido e indesejado, escondendo intimidades físicas. O jeito e trejeito de levantar as saias tornou-se hábito e uma rotina quase obrigatória de muitos grupos de espectáculo - pretensamente folclóricos - da nossa praça.
Voltando atrás no tempo, e tendo em conta os modos sociais da época, adivinha-se quanto penalizaria socialmente uma moçoila da aldeia, ousar levantar a saia só que fosse à altura do joelho, mesmo que tal tivesse acontecido por descuido.
Bom senso precisa-se, para que as gerações vindouras, porventura mais pendidas para a investigação e o estudo das raízes culturais e tradicionais de ontem, não nos julguem por os termos enganado com pantominas irreais, falsas e ilusórias.
O director
DESTAQUES
EXPOSIÇÃO NACIONAL DO TRAJE AO VIVO. PORTO DE MÓS FOI MONTRA VIVA DE TRAJES REGIONAIS DO PAÍS
Por: Manuel João Barbosa
Mais de meio milhar de trajes tradicionais estiveram expostos ao vivo na cidade de Porto de Mós, envergados por outros tantos figurantes, protagonistas do admirável e deslumbrante espectáculo. Elementos activos de 80 grupos folclóricos, ofereceram uma mostra rica e variada da etnografia de boa parte do espaço nacional. Vestes de gosto e confecção aprimorada, ou mais simples e singelas, o desfile traduziu-se numa montra vastíssima da forma popular de vestir há um século atrás.
A Federação do Folclore Português, com a colaboração dos Grupos de Folclore do concelho de Porto de Mós, nomeadamente os Ranchos Folclóricos das Pedreiras, de Arrimal, de Cabeça Veada e de Mira de Aire, organizou com desvelo a Exposição Nacional do Traje, uma sua iniciativa que vem de há dezasseis anos, recebida este ano pela cidade de Porto de Mós.
(Desenvolvimento da edição impressa)
NOTÍCIAS
- Ministra da Cultura desfila trajada de mordoma nas Festas d’ Agonia, em Viana do Castelo
- Águeda: Beltane em Belazaima
- “FOLCLORE À RASCA”. Afinal há muito dinheiro nas Câmaras Municipais!
- Festival do Rancho Tá-Mar animou a Páscoa na Nazaré
- Rancho de Salvaterra de Magos assinalou aniversário com Festival
- Folclore leva a festa à Fonte da Senhora (Alcochete)
- Rancho Regional de Ílhavo realizou Festival da Primavera
- Grupo de Castelo do Neiva comemorou o 36.º aniversário
- Festival ‘Cidade de Lisboa’ no parque do eucaliptal de Benfica
- Tarde rica de Folclore em Arrimal, Porto de Mós
- Os Serranos na Galiza
- Festival Infantil do Cartaxo animou Festa do Vinho
- Folclore famalicense em Mirandela
- Torricado reuniu à mesa duas centenas de convivas em Glória do Ribatejo
- Rancho Folclórico da Correlhã recebeu Medalha de Mérito Cultural
- Feira Rural em Paranhos à moda antiga
- Encontro de Instrumentos Tradicionais e conversas sobre Folclore no Sardoal
- Viseu: Rancho Folclórico de Calde passou a membro efectivo de Federação
- Grupo Folclórico de Faro vai festejar 81anos
- Rancho do Vale de Santarém em almoço comemorativo do 55.º aniversário
- O Vira assinalou o Dia Mundial da Dança em Viana do Castelo
- Rancho de Torredeita promoveu Encontro Luso-Francês
- Danças do Mundo – Festival Internacional das Terras da Feira decorre entre 20 e 31 de Julho
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SECÇÕES:
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A S S I N E