sexta-feira, 1 de abril de 2011

JORNAL FOLCLORE

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N.º 182 (ABRIL)
TÍTULOS DA EDIÇÃO EDITORIAL O folclore no Carnaval e não o Carnaval no folclore
Todos sabemos que o Carnaval, enquanto folia popular, se assume como um facto folclórico com especial relevância dentro da cultura popular. Em Portugal como na esmagadora maioria dos países do mundo. Cada país brinca o Carnaval a seu modo, de acordo com os seus costumes. Conta a história que foi de Portugal, através de emigração, que a tradição do Carnaval se implantou no Brasil. Ao carácter de festa popular se associa a galhofa e a brincadeira, algumas vezes maliciosa, mordaz e brejeira. Mas, como “pelo Carnaval ninguém leva a mal”... E porque trazemos aqui à baila o Carnaval? Não o Carnaval em si, mas as fantasias que nele aparecem com relativa regularidade, que foram “roubadas” à etnografia, ao folclore – os trajes tradicionais. As vestes populares de outros tempos, que se preservam como um património importante da nossa cultura popular, e que muitas vezes vestem matrafões e matrafonas, servindo, umas vezes a uma ridícula transfiguração, outras vezes a uma pretensa representação. Em muitos casos são roupagens que foram acauteladas em arcas e baús, e que guarda reminiscências de um passado remoto, e representam memórias que os tempos não apagam. Quem se preocupa com a preservação dessas vestes, património material valorizado e marcante da nossa cultura popular, não pode deixar de se invadir por uma certa inquietação e mesmo alguma consumição, por ver usar de forma despropositada peças de vestuário que constituem um legado incomparável e insubstituível. Ao comum observador, associando a “máscara” ao folclore, logo o olha de forma escarnecida. Porque o disfarce caminha quase sempre para a comicidade. E assim o folclore é continuadamente entendido sem deferência e respeito. Nota – Naturalmente que não se enquadra neste reparo a participação organizada em actividades carnavalescas, de grupos e ranchos de folclore, naturalmente respeitadores de elementares regras de representação. O director

NOTA EDITORIAL


As vozes do Alentejo Estar-se no Alentejo profundo é obrigatório ouvir as vozes da terra. Escutar os impulsos de alma de quem canta a chama da sua terra, dos campos de trigo ou dos amores d’algum dia. E não é difícil consegui-lo, certo que as gargantas se soltam – não raras vezes – ao balcão de uma tasca ou à mesa de um Café. Sem que menos se espera. A rotina vem de séculos atrás, e poucos são aqueles que não experimentam soltar um grito cantado, de paixão ou de raiva, de apego às coisas que marcam o sítio que lhes serviu de berço. Mas que escola de polifonia tiveram aquelas gargantas para se afinarem em perfeita harmonia de sons? Naturalmente que, tão só, a natureza e o carácter que faz de cada um, poeta e trovador. Ouvi-los, parece que cada cantiga dá conta de quem canta. E torna-o um prisioneiro às raízes e a um legado cultural que sucessivamente receberam dos seus antecessores. Das gargantas largam-se sons harmoniosos em quadras feitas de sonhos, muitas vezes criadas de forma instintiva. Mas sempre em cadência e união de vozes. O “ponto alto” entra para depois o coro se uniformizar em perfeita musicalidade de vozes, que ecoam graves, sóbrias e nostálgicas. E o espaço torna-se solene, como uma catedral.

“Terra que não é cantada é terra morta! Se o cante for esquecido, a terra acaba por morrer!”, diz a lenda. Mas o alentejano não deixará morrer a sua terra, porque continua a cantar, a cantar... E a legar esse saber, que se perde nos primórdios dos tempos, às actuais e vindouras gerações. Ou não fora o cante um património tradicional vivo, constantemente recreado, por força de um arreigado sentimento de identidade. No périplo que fizemos à procura dos “santuários” do cante, no Baixo Alentejo, e que desenvolvemos nas páginas centrais desta edição, foram vários os locais e muitas as vozes que arrolámos no nosso roteiro. Naturalmente diferentes, mas sempre iguais, enquanto relicários do cante. “Voltem, voltem sempre”, ouvimos, ante o nosso desejo de voltar. O director

DESTAQUES


BAIXO ALENTEJO. O ENCANTO DO CANTE Textos e fotos: Manuel João Barbosa Caminhámos Alentejo adentro, à procura do Alentejo profundo. Fomos ao encontro das vozes da terra, que cantam com alma. Mergulhámos nos redutos da tradição, as velhinhas vendas (tabernas), onde o chão parece tremer – e nós com ele! – sempre que as gargantas se soltam, sempre que se desapegam impulsos e se entoa o cante, nostálgico, profundo, sentido, dolente e vibrante. A entrar na alma extasiada de quem o ouve. Tudo isso encontrámos e experimentámos. Afinal, a tradição ainda é o que era. O improviso das raízes ainda vivas ofereceu-nos o retrato daquilo que queríamos encontrar: ouvir cantar a alma do Alentejo. Canta alentejano, canta! O teu canto é oração... “Ser alentejano não é um dote, é dom. Não se nasce alentejano, é-se alentejano”, ouvimos. Como o cante só o será se sair da garganta de um alentejano. Que outra pessoa o pode cantar? E quando o alentejano canta, é algo que vem de muito fundo, parecendo fluir das entranhas da terra. (Desenvolvimento na edição impressa)

- EM FUNÇÕES 14 MESES APENAS SE REUNIU UMA VEZ... GRUPO DE TRABALHO PARA O PATRIMÓNIO IMATERIAL RECEBEU 209 MIL EUROS É ACUSADO DE IMPRODUTIVIDADE O Grupo de Trabalho provisório que havia sido nomeado para preparar o funcionamento da Comissão do Património Imaterial Português foi destituído pela entrada em funções da referida Comissão. O Grupo foi criado no ano passado por despacho n.º 598/2010, de 4 de Janeiro, dos ministros da Cultura e das Finanças. Funcionava sob a tutela do Instituto de Museus e da Conservação, com sede no Palácio da Ajuda. O Grupo de 5 elementos foi contratado por um período de 24 meses, “pago 14 vezes por ano”, renovável por uma só vez. Estiveram em funções durante 14 meses, tendo auferido uma remuneração mensal de 2.613 euros. Receberam na totalidade 209 mil euros.

(Desenvolvimento na edição impressa)

- DAR VIDA ÀS TRADIÇÕES. “VIVÊNCIAS DE UM POVO” FEZ ESMIUÇAR OUTRO FOLCLORE EM JOANE, VILA NOVA DE FAMALICÃO. O Grupo Etnográfico Rusga de Joane (Vila Nova de Famalicão), comemorou no dia 13 de Março o seu 20.º aniversário. A efeméride foi assinalada com um interessante espectáculo, completo de encenações etnográficas protagonizadas pelo grupo aniversariante e por outros grupos convidados. Ao espectáculo de recriações de costumes foi dado a designação de “Vivências de um Povo”, e teve lugar no Grande Auditório da Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão, uma moderna infra-estrutura municipal.

Textos e fotos: Manuel João Barbosa (Desenvolvimento na edição impressa)


NOTÍCIAS


- IRÁ A RTP PRESTAR UM BOM SERVIÇO AO FOLCLORE? - A BATALHA EXALTOU OS INSTRUMENTOS MUSICAIS DA TRADIÇÃO - EXPOSIÇÃO E FESTIVAL DE FOLCLORE IBÉRICO VÃO ASSINALAR 15.º ANIVERSÁRIO DO GRUPO DE FOLCLORE DA CASA DE PORTUGAL EM ANDORRA - RANCHO DE BENFICA DO RIBATEJO EM FESTIVAL INTERNACIONAL NA SICÍLIA, ITÁLIA - FOLK CANTANHEDE DECORRE ENTRE 9 E 16 DE JULHO - FESTIVAL INTERNACIONAL DE ALMEIRIM JÁ PREPARA A EDIÇÃO DE 2012 - RANCHO DO VALE DE SANTARÉM RECEBE MEDALHA DE MÉRITO MUNICIPAL - AINDA O 15.º ANIVERSÁRIO DO JORNAL FOLCLORE - RANCHO DA CASA DO POVO DE GLÓRIA DO RIBATEJO COM ESTATUTO DE UTILIDADE PÚBLICA - MISTÉRIOS DA PÁSCOA EM IDANHA: AGENDA DE 2011 - RANCHO DA REGIÃO DE LEIRIA COMEMOROU 48.º ANIVERSÁRIO - CENTRO CULTURAL E RANCHO FOLCLÓRICO DE PAÇO DE SOUSA FESTEJARAM 36 ANOS - CARETOS: FIGURAS ENIGMÁTICAS DO NORDESTE TRANSMONTANO - MONTEMOR-O-NOVO: FESTIVAL DOS “FAZENDEIROS” ENCHEU O TEATRO CURVO SEMEDO - RANCHO CEIFEIRAS E CAMPINOS AZAMBUJA FESTEJOU O 54.º ANIVERSÁRIO COM TARDE DE FOLCLORE - GRUPO ETNOGRÁFICO DE ARZILA ASSINALA 37.º ANIVERSÁRIO E LANÇA CD - GRUPO TRADICIONAL OS CASALEIROS, DE AZAMBUJA, HOMENAGEOU O CAVADOR - FALECEU CHAVES E CASTRO, UM MAGO DA CULTURA - FUNDAÇÃO INATEL PROMOVEU AUDIÇÕES FINAIS DOS CURSOS DE INSTRUMENTOS TRADICIONAIS SECÇÕES:


TRADIÇÃO / INOVAÇÃO – , pelo Eng.º Manuel Farias


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