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EDIÇÃO N.º 160 (JUNHO 2009)
Nota Editorial
Esquecer a tradição…
A televisão, num apontamento de reportagem, exaltava num programa matinal o sentimento das raparigas de Miranda do Douro por “ousarem representar”, citamos, a popularizada ‘dança guerreira’, conhecida como ‘Dança dos Pauliteiros’. Alegava-se que os rapazes descuram a prática tradicional, e vai daí as graciosas moçoilas de Miranda – quais mulheres das tropas greco-romanas… – arregaçaram as mangas, envergaram as vestes guerreiras (?) e de paus em riste, foram à luta, que é como quem diz: à dança de combate.
A popular dança mirandesa dos paulitos terá origem na dança pírrica dos Gregos. Os dançadores simulam o ataque e a defesa na batalha. A representação figurada de actos guerreiros é assim encaminhada para um desempenho estritamente masculino, se quisermos levar à risca a retratação da tradição mirandesa, de tempos seculares. A figuração apresentada pelos grupos tradicionais de Pauliteiros, vem do tempo em que o povo da região transmontana criou a mítica dança – ou a aculturou – exigindo que o seu desempenho seja coisa de homens. Ou a tradição já não é o que era…
A prática que agora grupos de mulheres estão a incrementar, não terá nada do folclore que as gentes transmontanas criaram de forma anónima e que veio a arreigar-se de jeito tão apaixonado entre as comunidades de várias zonas do Planalto Mirandês e não só.
No apontamento televiso, apelava-se a que se “esquecesse a tradição” e se desse ao sexo feminino a prática da dança exclusiva dos homens. Um apelo legítimo pelo direito à recreação, ao divertimento e ao convívio. Mas a representação do folclore acaba aqui. Não chamemos a essas formações grupos tradicionais ou etnográficos, porque não estão de acordo com a génese da criação popular – o facto folclórico.
EDITORIAL
Aí estão os Festivais
Calcula-se que cerca de mil e quinhentos Festivais de Folclore irão animar os fins-de-semana de Maio a Setembro. Julho e Agosto há muito deixaram de ser os meses exclusivos para receberem as programações folclóricas, por razões que se prendem com a falta de disponibilidade dos grupos mais representativos, e também pelo direito a férias dos cooperantes nos meses especiais de estio. Junho e Setembro já se inundam de Festivais, e nalguns casos os meses Março e Abril, e mais tarde de Outubro já recebem muitas realizações, quando existem as alternativas que permitam que o Festival se desenrole em recintos cobertos. Temos assim um já curto período do ano que o movimento folclórico se aquieta nas suas representações cantadas e bailadas, contrariamente ao que se verificava anos atrás. Pelo Norte do País é conhecida uma intensa actividade dos grupos nos meses de Dezembro e Janeiro, recriando e fazendo reviver o folclore religioso do ciclo natalício e o cantar das Janeiras. Uma tradição não arreigada em boa parte do centro e do sul do País. O tradicional costume até já tem honras de espectáculo encenado, mostrando-se nos palcos de sumptuosas salas ou de simples instalações associativas.
Abrimos então os braços à nova época dos Festivais. Alheios a crises sociais e económicas, porque nestas coisas do folclore, tudo anda à volta da carolice, mesmo que haja encargos com a cortesia de oferecer a refeição aos grupos convidados.
DESTAQUES
Espaço vivo de memórias e tradições. Centro de Documentação e Estudos Etnográficos inaugurado na Glória do Ribatejo
Manuel João Barbosa
“Havia ali [na Glória do Ribatejo] um filão etnográfico a explorar”, escreveu Alves Redol em 1938 quando divagou por terras glorianas, e onde permaneceu longa temporada, para escrever a sua tão popularizada obra “Glória, uma Aldeia do Ribatejo”. Com efeito, a Glória – hoje uma das mais prósperas Freguesias do concelho de Salvaterra de Magos – sempre se distinguiu por uma peculiar atitude cultural das suas gentes. Talvez por isso o escritor terá denominado a pacata aldeiazinha de montado de então, como “uma ilha dentro do Ribatejo”.
“Não conheço em todo o Ribatejo percorrido, outra aldeia que irradie mais simpatia por atributo próprio”. Invocamos uma vez mais Alves Redol, que descrevia assim o sentimento que o assolou quando se “hospedou” no pacato lugar da charneca do Ribatejo, plantado entre rico e vasto montado, que espera a machada para, em cada nove anos, oferecer a cortiça.
De forma reiterada temos, nestas páginas, dado a conhecer costumes e hábitos peculiares que diferenciam a cultura gloriana de um outro qualquer recanto do País.
O Folclore do Ribatejo quer apagar o esteriótipo da ‘saia encarnada’
Manuel João Barbosa
Longe vai o tempo em que as vermelhas saias da indumentária das bailadoras dos ranchos do Ribatejo cunhavam a marca dum folclore ilusório da Lezíria – e não só – como o ex-libris do traje da Borda d’Água. A realidade da peça do vestuário feminino tradicional era, contudo, bem diferente daquilo que inúmeras formações queriam fazer ver. A investigação mais recente veio provar alguma contradição no uso quase maciço da garrida saia pelos grupos folclóricos. Afinal, outras matizes eram tão ou mais frequentes nos tecidos, que não só o vermelho. Generalizou-se então a saia encarnada entre os ranchos que se foram formando, copiando o pitoresco exibido por outros, contrariando a realidade etnográfica das respectivas zonas de inserção. O esteriótipo estava criado.
Durante décadas inúmeros grupos da região do Ribatejo espalharam a colorida imagem “etnográfica” da indumentária tradicional feminina, exaltando o alegórico traje – saia vermelha e blusa branca. Vestidas de forma uniformizada, a cor rubra sobressaía no palco da representação, apoiada sempre por uma apurada técnica de execução das danças. As plateias aplaudiam frenéticamente o bonitinho que as encarnadas saias e o sincronismo da execução bailada ofereciam.
(Desenvolvimento na edição impressa)
Reportagens
Feira Rural Portuguesa recebeu milhares de visitantes. Velhos costumes na Feira rural em Arcozelo
Manuel João Barbosa
A recriação e velhos hábitos de outros tempos, que permitiam trocar por alguns dinheiros os produtos da horta, do fumeiro ou da arte de uma qualquer bordadeira, passaram uma vez mais pelo Parque Santa Maria Adelaide, na popularizada vila de Arcozelo (Vila Nova de Gaia), tão conhecida por factos religiosos ligados ao aparecimento do corpo incorrupto de Maria Adelaide. A iniciativa da Federação do Folclore Português reuniu centenas de vendedores, figurando a tradição retratada por cerca de setenta grupos folclóricos, e recebeu a visita de milhares de visitantes.
A Feira Rural que a Federação do Folclore Português promove desde há 14 anos, levou ao aprazível Parque da conhecida vila de Arcozelo (Vila Nova de Gaia), dezenas de retratos vivos de hábitos de outrora, quando as gentes rurais procuravam, no marcado do largo da aldeia, angariar proventos para a sua sobrevivência, trocando por alguns réis os produtos cultivados nos hortejos ou os enchidos de carne do suíno criado no chiqueiro do quintal. (…)
(Desenvolvimento na edição impressa)
Peregrinação de ranchos e grupos folclóricos. Dois mil trajes do folclore nacional matizaram o Santuário de Fátima
Manuel João Barbosa
Cerca de duas centenas de grupos e ranchos folclóricos mostraram em Fátima aproximadamente dois mil trajes das suas representações etnográficas. O Santuário recebeu a VII peregrinação do movimento folclórico nacional, uma iniciativa da Federação do Folclore Português, que conta com o apoio da Reitoria do Santuário. As vestes, simples ou mais elaboradas da tradição portuguesa, coloriram o espaço sagrado,
Grande parte dos grupos folclóricos federados respondeu afirmativamente à chamada da Federação do Folclore Português (FFP), participando em mais uma grande manifestação de representação e de Fé, integrando a peregrinação do folclore nacional a Fátima. A iniciativa, que tem merecido o melhor apoio da Reitoria do Santuário, tem sido extraordinariamente bem acolhida pelos grupos e ranchos de folclore, comparecendo de forma numerosa em representação do movimento folclórico. No dia 26 de Abril estariam no Santuário a cerca de dois mil trajes regionais. (…)
(Desenvolvimento na edição impressa)
Oitocentos trajes tradicionais do País mostraram-se ao vivo em Tomar
Manuel João Barbosa
Mais de uma centena de regiões etnográficas do País, representadas por outros tantos grupos e ranchos de folclore, fizeram-se representar na XV Exposição Nacional do Trajo ao Vivo, que a Federação do Folclore Português organizou e levou à cidade de Tomar, constituindo um painel representativo da etnografia nacional, no respeitante a trajes tradicionais. Foram cerca de oitocentos os figurantes que exibiram de forma distinta os trajes de outras épocas, em representação das suas regiões. Muito público assistiu ao maravilhoso desfile, encantando-se com o admirável cortejo das vestes tradicionais.
Foram muitos os nabantinos que no dia 16 de Maio se extasiaram com o desfile de trajes tradicionais, outrora usados nas mais diversificadas regiões do País, e levados à cidade de Tomar, numa organização da Federação do Folclore Português, concretizando assim a sua XV Exposição Nacional do Trajo ao Vivo. (…)
(Desenvolvimento na edição impressa)
NOTÍCIAS
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OPINIÃO
Folclore recreativo, histórico e cultural. Por Bertino Coelho Martins
SECÇÕES
* Esfinge - Sombrias perspectivas! Por Dr. Aurélio Lopes
* PORQUE NÃO TE CALAS?
*FOI NOTÍCIA… HÁ 13 ANOS
FESTIVAIS
Realizações no mês de Junho
NOVOS CORPOS GERENTES
Rancho Folclórico e Etnográfico de Vale de Açores
CARTAS AO DIRECTOR
Peregrinação Nacional dos Ranchos Folclóricos
sexta-feira, 29 de maio de 2009
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