quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Edição de Dezembro

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Edição N.º 154 (Dezembro 2008)

Editorial

Falsos registos

Editados por grupos folclóricos, estão a aparecer verdadeiros embustes enquanto registos de folclore. Com efeito, muitos trechos são produto de uma desastrosa composição melódica (adivinha-se que também coreográfica), que nunca antes foram temas folclóricos. Como as mal alinhavadas quadras, que logo se descortina serem de inspiração contemporânea. O tocador ajeita a melodia e um dirigente ou o ensaiador apronta uns versos, também eles mal esboçados.
Se o registo em causa aparece como um trabalho de reprodução, tocada e cantada, do folclore da terra ou da região do grupo, concluir-se-á que se está na presença de um mau contributo à preservação do folclore. O registo conta como um documento, e se hoje facilmente se detecta a patranha, daqui a umas décadas os vindouros tomarão como acertado o trabalho discográfico, e certificam-no como produto folclórico, que nunca o foi.
Alguma coisa continua mal nestas coisas da actividade folclórica, quando se regista a asneira como um património cultural que não o é. É assim no folclore dançado como cantado. Parece-nos que alguns “experts” continuam a tomar as rédeas dum movimento que se quer justo e íntegro. Continuam a proliferar os grupos tidos como folclóricos que se propõem preservar o seu folclore, mas que ao invés inventam e registam composições imaginadas. O arquivo que fica, e que um dia é tido como documento de estudo e de investigação da cultura popular, acaba por ser uma enorme mentira. Os vindouros, ao invés de encontrarem um testemunho certificado do património tradicional, encontram, antes, um mau trabalho deixado por pérfidos “embaixadores culturais”.
Que haja bom senso. É o apelo que uma vez mais se deixa ao falso movimento folclórico.

O director

Nota Editorial

Estímulo e formação

O INATEL tem promovido desde há alguns anos a dinamização de novos projectos de representação etnográfica entre as associações suas filiadas. Grupos de folclore incluídos. Chamam-lhe ‘Concursos de Etnografia’. Naturalmente que não preferimos esta designação – concurso – mas a denominação é de somenos importância. Mais importante será o objectivo: estímulo à actividade sócio-cultural e à produção de projectos e iniciativas que dignifiquem os valores tradicionais, no respeitante à área do folclore. E isso parece-nos ter sido conseguido. E mesmo valorizado de edição para edição. O que vimos na edição deste ano não deixa margem para dúvidas. O elevado nível dos trabalhos levados à sessão final em Lisboa, foi de modo a deixar-nos animados sobre uma outra perspectiva de representar o folclore – os aspectos culturais e tradicionais, a etnografia. E ao que consta, nas eliminatórias que decorreram nas capitais de distrito de todo o País – continente e regiões autónomas – outros trabalhos mereceriam estar no palco da sessão final.
Aparte os concursos, entendemos que a iniciativa merece o elogio – e o aplauso – pelo desafio à produção de outras formas de recriar o folclore, nos variados aspectos que estão afectos à etnografia – hábitos, costumes, falares. Mas também o aspecto social está subjacente à actividade das associações participantes. Serão muitas semanas de renovado convívio entre os elementos activos, na construção de novos projectos. Isso mesmo nos fizeram sentir alguns responsáveis dirigentes. Para além disso, fica nos componentes participantes uma outra noção de estar no desempenho do grupo folclórico.
O elogio ao trabalho apresentado por quase todas as formações foi unânime nos jurados que avaliaram as representações. Os encómios não faltaram a cada representação e na plateia ouviram-se prolongados aplausos.
Pelas propostas inovadoras de investigação, riqueza de pormenores, criatividade e tentativa de rigor, outras perspectivas se abrem ao movimento folclórico.
A forma incomum de retratar a cultura popular, em abordagens valorizadoras da representação do folclore e da etnografia, merece por si só encorajamento e incentivo. Competição aparte, valorizemos a iniciativa pela qualidade dos trabalhos apresentados. E saudemos um princípio de mudança na mostra do folclore.

O director

Destaques

Gatos escondidos com o rabo de fora…
Folclore versus “folclore”
Ao folclore devemos chamar de “folclórico” aquilo que é “folclore”. Folclore é só aquilo que foi usual de forma generalizada entre uma comunidade em determinado empo. Ainda por outras palavras: Folclore, são as vivências tradicionais, e a tradição decorre da usualidade das ditas vivências no espaço e no tempo por parte de um grupo social, qualitativa e quantitativamente significativo. Só deve designar-se de folclore o que, na essência, o acto popular identifica como tal. Seja das danças às cantigas e aos trajes, como ainda a outros hábitos e costumes que vieram a tornar-se tradição. Não será folclore um traje, uma dança ou uma cantiga que foi hábito de uma pessoa e nunca se exteriorizou para a comunidade.


Por: Manuel João Barbosa

O conceito de Folclore continua arredado do entendimento de muitos dos seus divulgadores – os ranchos e grupos de folclore. Nos anos do Estado Novo convencionou-se chamar de Folclore a tudo o que fosse pitoresco, imaginoso e recreativo. (…)
(Desenvolvimento na edição papel)



AVIEIROS DO TEJO
- os nómadas do rio

Texto e fotos: Manuel João Barbosa

No início do século passado instalaram-se nas margens lezirentas do Tejo comunidades de pescadores originários da Praia da Vieira. Constituíram um marcante movimento migratório, que “fugindo” do mar revoltoso da sua Vieira procuraram no Tejo um meio de sobrevivência, pescando nas águas tranquilas do rio o sável, a lampreia, a enguia, a fataça. O Ribatejo passou então a ser morada de outras culturas, porto de salvação das gentes da Vieira. Eram os “ciganos do rio”, como Alves Redol os cognominou na sua obra que escreveu sobre as comunidades avieiras no Ribatejo, intitulada precisamente “Avieiros”. O Patacão, em Alpiarça; as Caneiras, em Santarém; o Escaroupim, em Salvaterra de Magos; a Aldeia de Palhotas, no Cartaxo; Porto da Palha, no Lezirão, em Azambuja e o Esteiro do Nogueira, em Vila Franca de Xira, foram – e são – redutos de avieiros.

“Incerto o pão na sua praia, só certa a morte no mar que os leva, eles partem. Da Vieira vêm para o Ribatejo. Aqui labutam. Alguns voltam ainda, roídos das saudades do seu mar. Muitos ficam. Avieiros lhes chamam na Borda d’Água” (Alves Redol).
Famílias inteiras, com os filhos nos braços, partiram em grupos numerosos rumo ao Ribatejo. Eram os pescadores que saíram da Praia da Vieira à procura de um meio de sobrevivência, porque o mar agitado na quadra invernosa não deixava barquear.
(…)
(Desenvolvimento na edição papel)


Reportagens

Devoção a S. Cristóvão ganha concurso de Etnografia da Fundação INATEL


Por: Manuel João Barbosa
Dezanove formações etnográficas, representando outros tantos distritos do País, levaram à Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa a cultura e as tradições de diversificadas regiões. A mostra constituiu um painel rico de costumes populares, estabelecendo uma abordagem caracterizadora do património cultural de variadas áreas geográficas de Portugal. O evento tem o objectivo de incentivar os grupos etnográficos a alargar o seu âmbito da representação.

Pagar promessas a S. Cristóvão dos Milagres, no cimo de um dos montes do Vale do Neiva, no distrito de Viana do Castelo, foi a recriação, feita de forma particularmente cuidada pelo Grupo das Cantadeiras do Vale do Neiva, e que valeu a aprovação unânime do júri que classificou cada uma das representações que passaram pelo palco da Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, (…)
(Desenvolvimento na edição papel)


Coimbra: Jornadas da AFERM para reflexão do movimento folclórico da região do Mondego


Por: Manuel João Barbosa
A Associação de Folclore e Etnografia da Região do Mondego, de Coimbra, levou a efeito as suas Jornadas Técnicas de Etnografia e Folclore, uma iniciativa que já vai na sua XIV edição. À volta de sucessivas mesas de trabalho, onde se sentaram especialistas sobre a cultura popular tradicional, o objectivo passa pela sensibilização para um adequado trabalho dos participantes activos no movimento folclórico da região do Mondego, e particularmente dos grupos associados. As sessões que completaram as Jornadas foram muito participadas.

As Jornadas de Etnografia e Folclore que a Associação de Folclore e Etnografia da Região do Mondego vem realizando em Coimbra desde há catorze anos, tiveram lugar nos dias 25 e 26 de Outubro, na Casa Municipal da Cultura. Boa parte dos responsáveis dirigentes e membros activos de diversos grupos folclóricos da região marcaram presença, naturalmente interessados em enriquecer conhecimentos em matéria da representatividade tradicional dos grupos que representam e participam.
(…)(Desenvolvimento na edição papel)

Notícias


- Santarém: Folcloristas do Ribatejo reuniram-se em sessão plenária para formação de um órgão associativo
- Festa de Folclore Infantil na Bemposta
- Cantares de Natal em Ançã
- Grupo de Faro organiza Encontro de Cantares de Boas Festas
- Rancho Típico de S. Mamede de Infesta organiza Encontro de Cantares Natalícios
- O rancho folclórico de Oliveira Santa Maria reviveu a desfolhada
- Grupo Folclórico de Modivas ofereceu magusto
- Romaria minhota celebrada em Belém
- FOLK Cantanhede já ostenta símbolo do CIOFF
- Grupo da Região do Vouga encerra actividades do ano com jantar de convívio
- Portugal sem candidatura a Património Mundial Imaterial
- Madeira: Danilo Fernandes esteve na Austrália a ensinar o folclore madeirense
- Etnográfico de Zagalho e Vale do Conde reviveu a malhada
- Rancho do Caçador vai comemorar aniversário
- Grupo Folclórico e Etnográfico de Alfarelos assinalou aniversário

Secções


- Esfinge- Etnografia a prémio no INATEL, pelo Dr. Aurélio Lopes
- Inovação / Tradição - Mudança, objectivo e melhoria, pelo Eng.º Manuel Farias

Discografia
Sons da Terra (Sendim)

Cartas ao director
Compadrios, honestidade…

Porque não te calas?

Opinião
- Açores: A perda da tradição, por José Joaquim de Sousa

Festivais de Folclore

Dia 13 de Dezembro
Rancho Etnográfico “Os Camponeses” de Arraiolos – 23.º aniversário. Pavilhão Multiusos de Arraiolos. Às 15 horas. Participação do Rancho Etnográfico “Os Camponeses” de Arraiolos; Rancho “Os Rancheiros de Vila Fria”; Grupo Etnográfico da Cantares “Sol Ardente”, de Igrejinha; Rancho Folclórico Flor do Alto Alentejo; Grupo de Cantares das Brotas e Rancho Folclórico de Nossa Senhora da Alegria (Castelo de Vide).



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